quarta-feira, 16 de dezembro de 2009
Maurice
Quando começamos a assistir Maurice, a primeira ideia que temos é: já sei o que vem daqui pra frente. O filme desaponta com a a sequência inicial, extremamente clichê e forçosamente engraçada. As lições de anatomia feminina ao jovem que dá nome ao filme já prenunciam o desinteresse deste em relação ao sexo frágil. Logo ao entender qual é sua suposta missão na Terra, trata de avisar ao seu mentor que não irá se casar, arrancando risadas deste, que espirituosamente diz que em 10 anos cederá um lugar à sua mesa de jantar para ele e sua futura mulher.
A amizade que cresce entre Maurice e Clive, já na universidade, encaminha para um sentimento mais forte que a princípio foi encarado de forma relativamente natural pelos dois, aparte uma relutância de Maurice. Ambos têm a prudência de manter os afagos muito bem escondidos dos olhos dos colegas e todos de forma geral; homossexualidade era punível como crime nessa Inglaterra pré 1ª Guerra Mundial, com direito a chicotadas; isso sem mencionar o estrago moral causado na imagem de quem fosse acusado de tal barbaridade.
As coisas já se mostram limitadas a partir do momento em que Clive pede para que a relação dos dois não descambe para o físico; para ele, o sentimento deles não pode ser 'destruído', portanto o platonismo daria conta de preservar a pureza do amor entre eles existente. Seu amigo entende, mas a fragilidade desse relacionamento às escondidas é totalmente rompida quando um colega deles sofre o que eles tanto temimam: a fatal acusação de homossexualismo. Clive decide que precisam terminar, e numa tentativa de encorajar Maurice, explica-lhe que o que eles tinham não poderia continuar e que nada se iguala ao amor por uma mulher.
Maurice tenta de tudo. Consulta o médico de família, um especialista em hipnose (o único com uma mentalidade aparentemente equilibrada e compreensiva), se esforça por conseguir ser atraído por mulheres, mas nada consegue. Em um certo momento do filme, fica a impressão de que Clive conseguiu superar um amor pueril, e que Maurice continua com os fantasmas de uma relação proibida que nunca poderia vir à tona. Caberia a este, portanto, superar um romance que foi breve e discreto na vida deles. É quando surge em cena um outro personagem, que foi genuinamente sendo construído aos poucos ao longo do enredo, até assumir importância no filme. É Scudd, couteiro de seu amigo Clive (ja casado), que começa a demonstrar interesse por Maurice. A proximidade se dá pelo fato de Maurice estar frequentando a casa de campo de Clive, lugar onde o primeiro tem passado longos períodos de sua vida.
As dúvidas surgem, depois que Maurice se deita com Scudd; até que ponto este não está se aproveitando da vulnerabilidade do primeiro e procura com isso chantageá-lo quando achar propício, acabando com a imagem de Maurice?
O filme é muito além do que se poderia esperar, uma vez que não se limita ao plano Maurice-Clive, e não cai no aborrecido de lidar com os vai-e-véns dessa amizade conflituosa dos dois. Lida isso, mas não só. Após a dúvida pertinente de Maurice, ele opta por arriscar seu amor por Scudd, que se diz ternamente apaixonado também, e os dois decidem por viver seu amor sem medo. A beleza do filme se encontra principalmente nessa segunda metade, quando o personagem de Hugh Grant cede lugar a essa intrigante figura (Scudd), socialmente inferior mas corajoso nos sentimentos e nas intenções. Vemos, portanto, o retrato de personagens plenamente verossímeis: aquele que nega sua natureza e o verdadeiro amor em troca de uma respeitabilidade ampla e um casamento superficialmente bom (mas profudamente sem amor ou contentamento), aquele que tem a coragem necessária para enfrentar de peito aberto a difamação do seu círculo social (a eterna bourgeoise hipócrita), e que no entanto precisa de alguém por quem se apaixone de verdade para que seja capaz de tanto, e aquele que é o feitor da mudança, vindo de onde menos se espera, e que tem a bravura mais incrível de todas.
Maurice passa de um personagem aparentemente fraco para alguém digno de respeito e admiração, e isso não seria possível sem a atuação marcante de todos os envolvidos nessa produção excepcional de James Ivory.
Hugh Grant está ótimo no papel de Clive, muito melhor do que em qualquer outra comédia romântica estúpida que viria a fazer quando se consagrasse como galã britânico. O filme é tocante, apaixonante, esperançoso, profundo e em nada superficial ou ingênuo. Traz o retrato de personagens que poderíamos muito bem encontrar na rua - não em qualquer rua, ou em qualquer época. São figuras que foram retratadas justamente por serem especiais e únicas, mas como dito antes, perfeitamente admissíveis. No final, fica a mensagem de que nada pode superar o amor - seja ele de um sexo ou de outro. Nem mesmo as leis da 'natureza' e da 'procriação' podem superar aquilo que, sutilmente mencionado no filme, os deuses mitológicos há milênios já desfrutam.
sexta-feira, 14 de agosto de 2009
La vie est un roman
Descrever o cinema de Alain Resnais é quase uma tarefa redundante, uma vez que o cineasta sempre manteve relações muito próximas com o conhecido 'cinema poético', que segue um pouco a Geração de 30 do cinema francês mas com um toque menos psicologista. Portanto, transformar em palavras aquilo que vemos na tela não é tão necessário, uma vez que as obras se explicam não somente através das imagens em si mas nos diálogos, na ideia, e nas citações.
Quero falar de um filme em particular, chamado A Vida é Um Romance, que assisti recentemente. O filme é de 1982, e conta com a participação de atores conhecidos como Geraldine Chaplin e Ruggero Raimondi.
Através da ideia título - A Vida é Um Romance - somos transportados para as envolventes histórias que compõem o filme. O pesonagem principal é o castelo em que as situações se desenrolam - o chatêau em questão é o palco de três enredos que vão evoluindo paralelamente. Um conta uma saga mística, provavelmente ocorrida há milênios, talvez séculos, ou milhares de anos, de um mundo onde a morte é um pavor, monstros aterradores são sacrificados e a população aplaude execuções públicas. A segunda, que abre o filme, nos conta sobre a 'construção' desse castelo em 1914, véspera da Guerra(é importante perceber que o castelo não é de fato construído nessa data, apenas metaforicamente. A ideia desse lugar já existia nos primórdios da civilização, quando monstros ainda habitavam o planeta e o misterioso imperava sobre o mundo).
A terceira história é a atual, em que o castelo em questão foi transformado em uma escola com proposta alternativa de estudo, chamada Educação pela Civilização. Lá é onde inúmeros professores debatem sobre formas mais eficazes de incentivar a imaginação da criança e deixá-la livre para sonhar. Nos deparamos com algo irônico - dezenas de professores num castelo gigante e opulente com apenas quatro crianças como estudantes.
A partir dessas três histórias - a 'medieval', a do início do século, e atual, Resnais constroi uma obra-prima absoluta do cinema, esquecida e pouco valorizada. No conto de 1914, quando o castelo é inaugurado, a bela consrução é interditada pela Guerra e, anos depois, o dono do palácio reúne seus amigos e faz um belo discurso, no qual diz se sentir frustrado e decepcionado pelo resultado da guerra avassaladora, pela perda de amigos e entes, por de sua fortuna própria e pela infelicidade humana. Angustiado por essa ideia, propõe que os interessados se hospedem no castelo e aceitem fazer tudo o que o anfitrião exigir. Os que concordam, se deparam com um método "nunca antes visto na Europa" que promete renascer os intrigados pela ideia. Assim, os homens e mulheres nasceriam despidos de qualquer sentimento infeliz, compostos apenas por tudo o que traria amor e felicidade.
A terceira história, além de trazer o debate sobre novas metodologias de ensino, traz consigo a aventura amorosa da professora Rousseau (claro, o nome não é à toa).
Sem dar muito mais detalhes desse filme magnífico, o que se pode inferir disso tudo é a reflexão genial
que o diretor faz do plano utópico da felicidade absoluta. Ao nos trazer três histórias de diferentes períodos da história da civilização, aquela que ainda acreditava no misticismo, aquela que se desesperançou com a guerra e aquela que propõe maneiras inéditas e quiçá, mais produtivas de se excitar o intelecto humano,
cabe a nós espectadores captar a mensagem sublime que o diretor nos quer transmitir. E daí o termo 'cinema poético' - as dicas estão não apenas nessas histórias - mas nos elementos visuais adotados para transmitir essa ideiais. O filme é de uma beleza gráfica única - e muitas vezes entrecortado por cenas musicais, o que nos surpreende logo de cara. Nunca imaginaríamos ver os personagens em questão em algo muito próximo de um musical. E o mais expecepcional de tudo - sem parecer cafona, duvidoso na intenção ou eclético demais, Alain Resnais nos agracia com uma obra que sem dúvida, encantará aqueles que já eram encantados por obras absolutas suas como Hirohsima, Mon Amour e L'année Dernière à Marienbad.
A mensagem que nos resulta é exatamente aquela do título - A Vida é um Romance. E Resnais nos diz mais - la vie est un roman especialmente para aqueles que recém-descobriram o romance. E assim, podemos entender: aquela primeira história nada mais passa do que um belo conto de fadas - e os números musicais nos remetem àquela felicidade transbordante que os filmes desse gênero inevitavelmente emanam. A segunda história nos mostra como a felicidade absoluta é infeliz e impossível. A última história nos dá outra visão: a de que talvez possamos conhecê-la. E o filme se encerra com o questionamento ingênuo das crianças que repetem as frases dos adultos em dois planos seguidos do filme: La vie est un roman.. la vie n'est pas un roman. O que ela é, afinal?
Com certeza, um dos melhores filmes franceses de todos os tempos.
Quero falar de um filme em particular, chamado A Vida é Um Romance, que assisti recentemente. O filme é de 1982, e conta com a participação de atores conhecidos como Geraldine Chaplin e Ruggero Raimondi.
Através da ideia título - A Vida é Um Romance - somos transportados para as envolventes histórias que compõem o filme. O pesonagem principal é o castelo em que as situações se desenrolam - o chatêau em questão é o palco de três enredos que vão evoluindo paralelamente. Um conta uma saga mística, provavelmente ocorrida há milênios, talvez séculos, ou milhares de anos, de um mundo onde a morte é um pavor, monstros aterradores são sacrificados e a população aplaude execuções públicas. A segunda, que abre o filme, nos conta sobre a 'construção' desse castelo em 1914, véspera da Guerra(é importante perceber que o castelo não é de fato construído nessa data, apenas metaforicamente. A ideia desse lugar já existia nos primórdios da civilização, quando monstros ainda habitavam o planeta e o misterioso imperava sobre o mundo).
A terceira história é a atual, em que o castelo em questão foi transformado em uma escola com proposta alternativa de estudo, chamada Educação pela Civilização. Lá é onde inúmeros professores debatem sobre formas mais eficazes de incentivar a imaginação da criança e deixá-la livre para sonhar. Nos deparamos com algo irônico - dezenas de professores num castelo gigante e opulente com apenas quatro crianças como estudantes.
A partir dessas três histórias - a 'medieval', a do início do século, e atual, Resnais constroi uma obra-prima absoluta do cinema, esquecida e pouco valorizada. No conto de 1914, quando o castelo é inaugurado, a bela consrução é interditada pela Guerra e, anos depois, o dono do palácio reúne seus amigos e faz um belo discurso, no qual diz se sentir frustrado e decepcionado pelo resultado da guerra avassaladora, pela perda de amigos e entes, por de sua fortuna própria e pela infelicidade humana. Angustiado por essa ideia, propõe que os interessados se hospedem no castelo e aceitem fazer tudo o que o anfitrião exigir. Os que concordam, se deparam com um método "nunca antes visto na Europa" que promete renascer os intrigados pela ideia. Assim, os homens e mulheres nasceriam despidos de qualquer sentimento infeliz, compostos apenas por tudo o que traria amor e felicidade.
A terceira história, além de trazer o debate sobre novas metodologias de ensino, traz consigo a aventura amorosa da professora Rousseau (claro, o nome não é à toa).
Sem dar muito mais detalhes desse filme magnífico, o que se pode inferir disso tudo é a reflexão genial
que o diretor faz do plano utópico da felicidade absoluta. Ao nos trazer três histórias de diferentes períodos da história da civilização, aquela que ainda acreditava no misticismo, aquela que se desesperançou com a guerra e aquela que propõe maneiras inéditas e quiçá, mais produtivas de se excitar o intelecto humano,
cabe a nós espectadores captar a mensagem sublime que o diretor nos quer transmitir. E daí o termo 'cinema poético' - as dicas estão não apenas nessas histórias - mas nos elementos visuais adotados para transmitir essa ideiais. O filme é de uma beleza gráfica única - e muitas vezes entrecortado por cenas musicais, o que nos surpreende logo de cara. Nunca imaginaríamos ver os personagens em questão em algo muito próximo de um musical. E o mais expecepcional de tudo - sem parecer cafona, duvidoso na intenção ou eclético demais, Alain Resnais nos agracia com uma obra que sem dúvida, encantará aqueles que já eram encantados por obras absolutas suas como Hirohsima, Mon Amour e L'année Dernière à Marienbad.
A mensagem que nos resulta é exatamente aquela do título - A Vida é um Romance. E Resnais nos diz mais - la vie est un roman especialmente para aqueles que recém-descobriram o romance. E assim, podemos entender: aquela primeira história nada mais passa do que um belo conto de fadas - e os números musicais nos remetem àquela felicidade transbordante que os filmes desse gênero inevitavelmente emanam. A segunda história nos mostra como a felicidade absoluta é infeliz e impossível. A última história nos dá outra visão: a de que talvez possamos conhecê-la. E o filme se encerra com o questionamento ingênuo das crianças que repetem as frases dos adultos em dois planos seguidos do filme: La vie est un roman.. la vie n'est pas un roman. O que ela é, afinal?
Com certeza, um dos melhores filmes franceses de todos os tempos.
sábado, 8 de agosto de 2009
Cul-de-Sac
Quando Roman Polanski primeiramente apareceu, ele fazia parte de um grupo de teatro, até ter uma certa notablidade no primeiro filme da "Trilogia da Guerra" não-planejada de Andrej Wajda. Em Kanal, Roman já daria mostrar de que sua expressividade na tela não viria apenas por meio da atuação, mas por trás também de quem atua.
Ganhou fama internacional ao dirigir o filme de terror "O Bebê de Rosemary", com Mia Farrow no auge de sua carreira, lançando tendências no mundo com seu cabelo curtinho e estiloso. Mas o filme não deu apenas um 'up' na moda - Roman provou que o gênero terror pode se manifestar no campo do psicológico, aquele que apresenta os maiores monstros, os fantasmas da mente - e não necessariamente através de criaturas horrendas e desfiguradas (basta lembrar que até 1968, ano de lançamento dessa obra-prima, o mundo já tinha visto umas trinta mil adaptações de Drácula e Frankenstein).
Roman apavorou gerações com o demoníaco filho de Rosemary - e ainda há quem jure ter visto seu rosto em determinadas partes do filme. Poderíamos dizer que ele foi o pai do terror psicológico - assim como anos mais tarde, Williem Friedkin seria a mola propulsora do terro explícito com 'O Exorcista'.
Recentemente, o filme 'O Pianista' também fez sucesso ao redor do globo - com as impactantes cenas de crueldade nazista, o intenso teor dramático e a atuação sublime de Adrien Brody, que consagrou-se após o lançamento do longa.
Pouco antes de Rosemary's Baby, Roman fez uma obra fantástica chamada 'Repulsion' - Repulsa ao Sexo, com uma Catherine Deneuve linda e numa obra estranha, inovadora como sempre e muito intrigante. No filme, ela interpreta uma mulher que se esquiva de todos os homens que a paqueram - e a partir de então, passa a ter estranhas alucinações no apartamento que mora. Foi o primeiro filme de terror que Roman fez, talvez no experimentalismo posteriormente formalizado em Bebê de Rosemary.
Roman ainda fez filmes digníssimos de atenção, como Chinatown - com Faye Dunaway também no auge da beleza e Jack Nicholson, num filme noir memorável. 'Lua de Fel' tem fãs apaixonados, com roteiro dramático e único.
Fez ainda uma respeitada adaptação de 'Macbeth', de Shakespeare.
Polanski conseguiu como ninguém imprimir a seus filmes uma marca inconfundível, em filmes às vezes difíceis de se penetrar, numa atmosfera muito particular do diretor. Cul-de-Sac, por exemplo, nos mostra claramente isso: uma trama de humor negro inusitada e muito original, que descamba pro dramático nos últimos 25 minutos.
Particularmente, não gosto de maioria de seus filmes. No entanto, é um dos maiores diretores de cinema ainda vivos - pelo menos da antiga geração de cinema, dos anos 60 - e que, apesar de ter se aventurado por diversos gêneros, nunca apelou para a facilidade dos filmes comerciais e manteve sempre suas características essenciais.
Ganhou fama internacional ao dirigir o filme de terror "O Bebê de Rosemary", com Mia Farrow no auge de sua carreira, lançando tendências no mundo com seu cabelo curtinho e estiloso. Mas o filme não deu apenas um 'up' na moda - Roman provou que o gênero terror pode se manifestar no campo do psicológico, aquele que apresenta os maiores monstros, os fantasmas da mente - e não necessariamente através de criaturas horrendas e desfiguradas (basta lembrar que até 1968, ano de lançamento dessa obra-prima, o mundo já tinha visto umas trinta mil adaptações de Drácula e Frankenstein).
Roman apavorou gerações com o demoníaco filho de Rosemary - e ainda há quem jure ter visto seu rosto em determinadas partes do filme. Poderíamos dizer que ele foi o pai do terror psicológico - assim como anos mais tarde, Williem Friedkin seria a mola propulsora do terro explícito com 'O Exorcista'.
Recentemente, o filme 'O Pianista' também fez sucesso ao redor do globo - com as impactantes cenas de crueldade nazista, o intenso teor dramático e a atuação sublime de Adrien Brody, que consagrou-se após o lançamento do longa.
Pouco antes de Rosemary's Baby, Roman fez uma obra fantástica chamada 'Repulsion' - Repulsa ao Sexo, com uma Catherine Deneuve linda e numa obra estranha, inovadora como sempre e muito intrigante. No filme, ela interpreta uma mulher que se esquiva de todos os homens que a paqueram - e a partir de então, passa a ter estranhas alucinações no apartamento que mora. Foi o primeiro filme de terror que Roman fez, talvez no experimentalismo posteriormente formalizado em Bebê de Rosemary.
Roman ainda fez filmes digníssimos de atenção, como Chinatown - com Faye Dunaway também no auge da beleza e Jack Nicholson, num filme noir memorável. 'Lua de Fel' tem fãs apaixonados, com roteiro dramático e único.
Fez ainda uma respeitada adaptação de 'Macbeth', de Shakespeare.
Polanski conseguiu como ninguém imprimir a seus filmes uma marca inconfundível, em filmes às vezes difíceis de se penetrar, numa atmosfera muito particular do diretor. Cul-de-Sac, por exemplo, nos mostra claramente isso: uma trama de humor negro inusitada e muito original, que descamba pro dramático nos últimos 25 minutos.
Particularmente, não gosto de maioria de seus filmes. No entanto, é um dos maiores diretores de cinema ainda vivos - pelo menos da antiga geração de cinema, dos anos 60 - e que, apesar de ter se aventurado por diversos gêneros, nunca apelou para a facilidade dos filmes comerciais e manteve sempre suas características essenciais.
sexta-feira, 24 de julho de 2009
Cat on a Hot Tin Roof
Eis um filme que merece uma atenção especial. Gata em Teto de Zinco Quente é um filme de 1958, que reuniu grandes nomes do cinema e da dramturgia numa obra com indicações ao Oscar e sucesso de bilheteria na época.
A belissima história nos conta a saga de Brick e Maggie, um casal que enfrenta enormes dificuldades no trato entre si. Como pano de fundo, temos a convalescença de Big Daddy, pai de Brick e milionário, dono de infintas terras. Sua recuperação de uma doença no fígado suscita dúvidas: será mesmo que sua melhora foi total? Enquanto permanece essa dúvida, familiares aproveitam a situação para preparar estratégias e se apoderarem da herança.
O clima de desconfiança e falsidade é o tema central dessa peça magnífica de Tennessee Williams, adaptada fielmente para o cinema. A obra, que apresentou traços inovadores no trato de personagens, da trama em si e nos detalhes, resultou num enredo truncado e cheio de sensualidade. Um ponto interessante da trama é a maneira como aos poucos vamos descobrindo os motivos do rancor entre Brick e sua esposa; a razão para isso não é apresentada diretamente, mas aos poucos, em nuances, deixando a cargo do telespectador ir guardando as informações aos poucos apresentadas e ir assimilando características dos personagens.
Vemos aqui a solidão, a culpa, o desafeto, o interesse e claro, a falsidade, mencionada explicitamente ao longo do filme. Uma história familiar que está longe de ser óbvia, clichê ou aborrecida.
O longa é uma excelente mostra do que o cinema norte-americano, outrora, fora capaz de produzir. Alinhando o cinema de qualidade da década de 50 e a dramaturgia impecável de Williams, vemos aqui um excelente resultado, que acaba por nos levar àquela triste constatação de que, de fato, não se fazem mais filmes americanos como antigamente.
O sempre elegante, lindo e marcante Paul Newman e a invariavelmente gloriosa e inesquecível Liz Taylor interpretam o complicado casal que, apesar de circustâncias trágicas do passado que atormentam o presente, a culpa que um atribuí ao outro e ao cenário de hipocrisia que a familia proporciona, amam a si e hão de enfentar as difculdades e fantasmas antigos.
Simplesmente inesquecível.
A belissima história nos conta a saga de Brick e Maggie, um casal que enfrenta enormes dificuldades no trato entre si. Como pano de fundo, temos a convalescença de Big Daddy, pai de Brick e milionário, dono de infintas terras. Sua recuperação de uma doença no fígado suscita dúvidas: será mesmo que sua melhora foi total? Enquanto permanece essa dúvida, familiares aproveitam a situação para preparar estratégias e se apoderarem da herança.
O clima de desconfiança e falsidade é o tema central dessa peça magnífica de Tennessee Williams, adaptada fielmente para o cinema. A obra, que apresentou traços inovadores no trato de personagens, da trama em si e nos detalhes, resultou num enredo truncado e cheio de sensualidade. Um ponto interessante da trama é a maneira como aos poucos vamos descobrindo os motivos do rancor entre Brick e sua esposa; a razão para isso não é apresentada diretamente, mas aos poucos, em nuances, deixando a cargo do telespectador ir guardando as informações aos poucos apresentadas e ir assimilando características dos personagens.
Vemos aqui a solidão, a culpa, o desafeto, o interesse e claro, a falsidade, mencionada explicitamente ao longo do filme. Uma história familiar que está longe de ser óbvia, clichê ou aborrecida.
O longa é uma excelente mostra do que o cinema norte-americano, outrora, fora capaz de produzir. Alinhando o cinema de qualidade da década de 50 e a dramaturgia impecável de Williams, vemos aqui um excelente resultado, que acaba por nos levar àquela triste constatação de que, de fato, não se fazem mais filmes americanos como antigamente.
O sempre elegante, lindo e marcante Paul Newman e a invariavelmente gloriosa e inesquecível Liz Taylor interpretam o complicado casal que, apesar de circustâncias trágicas do passado que atormentam o presente, a culpa que um atribuí ao outro e ao cenário de hipocrisia que a familia proporciona, amam a si e hão de enfentar as difculdades e fantasmas antigos.
Simplesmente inesquecível.
terça-feira, 21 de julho de 2009
La Pianiste
Em 'A Professora de Piano', filme de Michael Haneke, vemos em cena uma angustiada Isabelle Huppert merecidamente vencedora do prêmio de melhor atuação feminina em Cannes, contracenando com um jovem Benoît Magimel, num intenso, pesado e adulto filme de drama.
Com certeza, assisti-lo não é uma tarefa que agradará o grande público. Tampouco será plenamente alcançado em sua dureza e sofridão, e como o tempo nos mostrou, passou, injustamente, para o rol dos filmes ditos 'franceses' - no sentido pejorativo da palavra. Não é preciso muito para notar o quão maior essa obra se tornou, muito além da sua limitação de filme cult-aborrecido pela grande plateia, e sem sombra de dúvidas marcou não apenas a maior atuação até hoje da marcante e belíssima Isabelle, mas também mostrou-se exímio ao analisar as relações humanas mais complicadas e as inevitáveis e drásticas consequências do envolvimento sem consciência entre duas pessoas sem o completo conhecimento um do outro.
As aulas de piano ministradas por Erika (Isabelle) nos mostram bem o ambiente a que pertence. O instrumento em questão nos serve, aqui, como metáfora ao exprimir o conservadorismo de sua vida, as notas erradas duramente reprimidas nos lembram sua autorepressão em si, sua severidade para com os alunos, a severidade de sua própria mãe. O mundo externo em que vive é constantemente remetido a seu próprio universo interior, e vice-versa.
Pouquísismos filmes foram capazes de abordar a repressão sexual como esse o foi. Os olhares congelantes e distantes de Erika, em longos planos-sequência, nos transportam para a realidade doentia de sua vida. Ela, uma mulher que não conseguiu crescer e criar sua própria vida, compartilhando de intimidades e detalhes com a mãe, dando sempre satisfações de sua rotina, envolve-se com um jovem estudante de piano, que mostra-se claramente interessado por ela desde seu primeiro encontro. É claro que Erika não conseguirá libertar-se de suas próprias correntes e entregar-se a um relacionamento maduro. Ela está por volta de seus 40 anos, acostumada a uma castidade pouco comum em nossa sociedade.
Há trechos memoráveis no filme, que certamente deve ser visto. Inesquecível, nos dá um belíssimo exemplar do cinema francês, em sua mais pura essência e originalidade na abordagem de personagens, e Haneke nos agracia com um dos melhores filmes dessa virada de século.
Com certeza, assisti-lo não é uma tarefa que agradará o grande público. Tampouco será plenamente alcançado em sua dureza e sofridão, e como o tempo nos mostrou, passou, injustamente, para o rol dos filmes ditos 'franceses' - no sentido pejorativo da palavra. Não é preciso muito para notar o quão maior essa obra se tornou, muito além da sua limitação de filme cult-aborrecido pela grande plateia, e sem sombra de dúvidas marcou não apenas a maior atuação até hoje da marcante e belíssima Isabelle, mas também mostrou-se exímio ao analisar as relações humanas mais complicadas e as inevitáveis e drásticas consequências do envolvimento sem consciência entre duas pessoas sem o completo conhecimento um do outro.
As aulas de piano ministradas por Erika (Isabelle) nos mostram bem o ambiente a que pertence. O instrumento em questão nos serve, aqui, como metáfora ao exprimir o conservadorismo de sua vida, as notas erradas duramente reprimidas nos lembram sua autorepressão em si, sua severidade para com os alunos, a severidade de sua própria mãe. O mundo externo em que vive é constantemente remetido a seu próprio universo interior, e vice-versa.
Pouquísismos filmes foram capazes de abordar a repressão sexual como esse o foi. Os olhares congelantes e distantes de Erika, em longos planos-sequência, nos transportam para a realidade doentia de sua vida. Ela, uma mulher que não conseguiu crescer e criar sua própria vida, compartilhando de intimidades e detalhes com a mãe, dando sempre satisfações de sua rotina, envolve-se com um jovem estudante de piano, que mostra-se claramente interessado por ela desde seu primeiro encontro. É claro que Erika não conseguirá libertar-se de suas próprias correntes e entregar-se a um relacionamento maduro. Ela está por volta de seus 40 anos, acostumada a uma castidade pouco comum em nossa sociedade.
Há trechos memoráveis no filme, que certamente deve ser visto. Inesquecível, nos dá um belíssimo exemplar do cinema francês, em sua mais pura essência e originalidade na abordagem de personagens, e Haneke nos agracia com um dos melhores filmes dessa virada de século.
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