sexta-feira, 24 de julho de 2009

Cat on a Hot Tin Roof

Eis um filme que merece uma atenção especial. Gata em Teto de Zinco Quente é um filme de 1958, que reuniu grandes nomes do cinema e da dramturgia numa obra com indicações ao Oscar e sucesso de bilheteria na época.
A belissima história nos conta a saga de Brick e Maggie, um casal que enfrenta enormes dificuldades no trato entre si. Como pano de fundo, temos a convalescença de Big Daddy, pai de Brick e milionário, dono de infintas terras. Sua recuperação de uma doença no fígado suscita dúvidas: será mesmo que sua melhora foi total? Enquanto permanece essa dúvida, familiares aproveitam a situação para preparar estratégias e se apoderarem da herança.
O clima de desconfiança e falsidade é o tema central dessa peça magnífica de Tennessee Williams, adaptada fielmente para o cinema. A obra, que apresentou traços inovadores no trato de personagens, da trama em si e nos detalhes, resultou num enredo truncado e cheio de sensualidade. Um ponto interessante da trama é a maneira como aos poucos vamos descobrindo os motivos do rancor entre Brick e sua esposa; a razão para isso não é apresentada diretamente, mas aos poucos, em nuances, deixando a cargo do telespectador ir guardando as informações aos poucos apresentadas e ir assimilando características dos personagens.
Vemos aqui a solidão, a culpa, o desafeto, o interesse e claro, a falsidade, mencionada explicitamente ao longo do filme. Uma história familiar que está longe de ser óbvia, clichê ou aborrecida.

O longa é uma excelente mostra do que o cinema norte-americano, outrora, fora capaz de produzir. Alinhando o cinema de qualidade da década de 50 e a dramaturgia impecável de Williams, vemos aqui um excelente resultado, que acaba por nos levar àquela triste constatação de que, de fato, não se fazem mais filmes americanos como antigamente.
O sempre elegante, lindo e marcante Paul Newman e a invariavelmente gloriosa e inesquecível Liz Taylor interpretam o complicado casal que, apesar de circustâncias trágicas do passado que atormentam o presente, a culpa que um atribuí ao outro e ao cenário de hipocrisia que a familia proporciona, amam a si e hão de enfentar as difculdades e fantasmas antigos.
Simplesmente inesquecível.

terça-feira, 21 de julho de 2009

La Pianiste

Em 'A Professora de Piano', filme de Michael Haneke, vemos em cena uma angustiada Isabelle Huppert merecidamente vencedora do prêmio de melhor atuação feminina em Cannes, contracenando com um jovem Benoît Magimel, num intenso, pesado e adulto filme de drama.
Com certeza, assisti-lo não é uma tarefa que agradará o grande público. Tampouco será plenamente alcançado em sua dureza e sofridão, e como o tempo nos mostrou, passou, injustamente, para o rol dos filmes ditos 'franceses' - no sentido pejorativo da palavra. Não é preciso muito para notar o quão maior essa obra se tornou, muito além da sua limitação de filme cult-aborrecido pela grande plateia, e sem sombra de dúvidas marcou não apenas a maior atuação até hoje da marcante e belíssima Isabelle, mas também mostrou-se exímio ao analisar as relações humanas mais complicadas e as inevitáveis e drásticas consequências do envolvimento sem consciência entre duas pessoas sem o completo conhecimento um do outro.

As aulas de piano ministradas por Erika (Isabelle) nos mostram bem o ambiente a que pertence. O instrumento em questão nos serve, aqui, como metáfora ao exprimir o conservadorismo de sua vida, as notas erradas duramente reprimidas nos lembram sua autorepressão em si, sua severidade para com os alunos, a severidade de sua própria mãe. O mundo externo em que vive é constantemente remetido a seu próprio universo interior, e vice-versa.



Pouquísismos filmes foram capazes de abordar a repressão sexual como esse o foi. Os olhares congelantes e distantes de Erika, em longos planos-sequência, nos transportam para a realidade doentia de sua vida. Ela, uma mulher que não conseguiu crescer e criar sua própria vida, compartilhando de intimidades e detalhes com a mãe, dando sempre satisfações de sua rotina, envolve-se com um jovem estudante de piano, que mostra-se claramente interessado por ela desde seu primeiro encontro. É claro que Erika não conseguirá libertar-se de suas próprias correntes e entregar-se a um relacionamento maduro. Ela está por volta de seus 40 anos, acostumada a uma castidade pouco comum em nossa sociedade.

Há trechos memoráveis no filme, que certamente deve ser visto. Inesquecível, nos dá um belíssimo exemplar do cinema francês, em sua mais pura essência e originalidade na abordagem de personagens, e Haneke nos agracia com um dos melhores filmes dessa virada de século.