quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Terra em Transe


O cinema nacional encontra, nos tempos atuais, o seu tão demorado auge. De uns dez anos para cá, as boas safras de filmes brasileiros têm feito muitas pessoas reverem seus conceitos quanto à nossa capacidade cinematográfica, e se a grande maioria não muda de opinião, pelo menos torna-se mais paciente . Exemplos claros disso são O Auto da Compadecida, Cidade de Deus e o mais recente 2 Filhos de Francisco, que tornou-se a obra que mais arrastou brasileiros ao cinema (num filme nacional, desconsiderando os blockbusters estadunidenses). Estamos chegando a um ponto em que dividimos nossa preferência: e agora, vou pagar pra ver um nacional ou um americano?


No entanto, não é necessariamente injusto que apenas agora o brasileiro tenha se animado a assistir um filme que fale sua língua. Primeiramente, nunca tivemos uma qualidade muito aprimorada; quase que invariavelmente, os filmes nacionais abordam os tão clichês sexo/palavrão/violência, que depois de uma meia-dúzia de obras esquecíveis seguindo essa linha, aborrecem e desencantam. E um detalhe que incomoda muito é o som dos filmes, que nos força a algo ridículo: colocar legenda pra entender por completo os diálogos.


Mas, numa atiga década de 70, tivemos filmes maravilhosos que barram consideravelmente os atuais. Um exemplo disso, é Terra em Transe, de Glauber Rocha.

Rocha notabilizou-se principalmente por esse filme e Deus e o Diabo Na Terra do Sol, elogiadíssimo na época.

Bom, minha humilde opinião a respeito de Terra em Transe é a mais boba possível: é um filme ótimo, em quase todos os sentidos, e não há muito a acrescentar.

Essencial para quem quer se aventurar pela filmografia histórica nacional, ou mesmo quem pretende ver os clássicos fundamentais do cinema e não tem preconceito para com o cinema brasileiro (apesar daqueles poréns todos que citei ali encima), a obra é assustadoramente atual.

Glauber foi um grande intelectual na Ditadura Militar, e contribuiu bastante para nossa história recente cultural.


Terra em Transe é um filme político, ambientado no fícticio país de El Dorado, onde inúmeras traições eleitorais, mudanças de partido e ideologia acontecem. É assustadoramente atual - e como o filme serve de metáfora para a América Latina, é válido e certo afirmar - que nada, em nossa América do Sul, mudou. Detalhe: o filme completa 41 anos de existência agora em 2008.


Sua linguagem poética (literalmente, não é maneira sutil de observar o filme. Ele é, muitas vezes, declamado e recitado com rimas floreadas e afetadas) e duração um pouco arrastada o tornam um pouco cansativo, mas excelente, de qualquer maneira.

Recomendo.

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