quarta-feira, 30 de julho de 2008

Era Uma Vez...




Hoje foi um dia maravilhoso. Cansado de ir para os cinemas de sempre, resolvi fazer algo novo e ir no Palácio, perto do Odeon, ver um filme que estava contando os segundos para ter a oportunidade de assistir: Era Uma Vez...

O filme é tão tocante, tão bonito, triste, atual, e puro, que dispensa qualquer pretensa crítica. Só digo àqueles que lêem: vejam. É simplesmente perfeito.

terça-feira, 29 de julho de 2008

Difamados blockbusters


"Jovens são condicionados a pensar agora que o cinema é composto de filmes de edição rápida, sem muito desenvolvimento dos personagens e com uma infinidade de cenas de ação. Os personagens de super-herói se encaixam bem nisso."


Essa frase de um renomado professor americano sintetiza claramente quais são os rumos do Cinema atualmente.

Na minha primeira postagem, ressaltei que um grande erro é criticar preconceituosamente os filmes blockbusters (feitos exclusivamente para a obtenção de lucro) como sendo necessariamente ruins, e os filmes ditos alternativos (cults) bons. Ou no mínimo, tendo essa rotulação como um grande ponto a seu favor.


No entanto, sabemos claramente que como toda arte, o Cinema não limita-se ao comercial e ao distrativo.


Tendo isso em mente, podemos notar como recentemente os filmes de super-heróis obtém uma enorme divulgação, publicidade e uma ansiedade forçada. Tudo faz parte de um jogo genial de marketing - que faz a massa deslocar-se ao cinema.

O filme da vez é Batman, que segue a hereditariedade da infinita saga transposta às telonas baseada no HQ homônimo, e de mais uma safra de adaptações de maaais super-heróis. No entanto, o auge dessas adaptações muito provavelmente deve ter sido há uns 4 anos, quando era uma verdadeira enxurrada de obras do gênero. Hulk, Demolidor, X-Men 1 2 3, Homem Aranha 1 2 3, Motoqueiro Fantasma, Quarteto Fantástico 1 2, e por aí vai.


Piratas do Caribe parece ter abafado esse desânimo de tantas adaptações. Mas agora, Batman volta com força - e paralelo a isso, quem acompanha as novidades dos bastidores, sabe que os produtores americanos parecem ter descobrido um novo el dorado; os grandes mangás e animês japoneses. O primeiro filme já foi lançado; Speed Racer saiu há pouco de cartaz aqui nos cinemas brasileiros (e particularmente, um filme belíssimo em efeitos, cores, roteiro e atuações), mas Akira também já foi adaptado e Dragon Ball ressucita nostalgia e suspense, já que 100 milhões estão sendo investidos num filme que parece não ter pudor algum ao mudar abertamente as características dos personagens que fizeram parte da minha infância e da de todas as crianças que acompanhavam assiduamente as aventuras desse grande animê.


Uma maldição para os otakus mais obcecados e radicais, uma bênção para as indústrias cinematográficas que terão esses mesmos otakus pagando para ver um filme que muito provavelmente irão torcer o nariz. É um ciclo; mesmo esperando pouco dos filmes, vamos vê-los (até para manter assunto entre as rodas de conversa) para tiramos conclusões próprias.


Qual será a próxima investida?

domingo, 27 de julho de 2008

Turistas




Recentemente, vi o filme Turistas, e adorei. Adorei porque adoro quando os estrangeiros falam do nosso país, sinto-me como se fosse conhecido, não desconhecido (há países que nós nunca ouvimos falar, e sinceramente, detestaria pertencer a algum desses, não há senso de identidade expansivo, não há reconhecimento ou apreciação), então esse foi o primeiro motivo por querer assistir esse filme.




Lembro-me que quando ele foi lançado nos cinemas brasileiros, ano retrasado, algumas entrevistas com o diretor foram publicadas em diversas revistas. Normal, caso fosse um Spielberg, um Schumacher, um Nolan. Mas a temática geral dos entrevistadores foi tentar decifrar porquê ele havia feito um filme tão monstruoso, violento, praticamente molestador da visão frágil que o Brasil já possuí no exterior.




Para quem não sabe, o filme é sobre um grupo de turistas jovens que procura diversão, cerveja barata, mulheres e praia bonitas aqui no Brasil. Quando um motorista irresponsável (brasileiro) acaba por destruir o ônibus (que cai morro abaixo), os visitantes são obrigados a hospedarem-se numa pequena aldeia. São roubados enquanto dormem e quando tentam procurar quem havia feito isso, são advertidos por um morador (num inglês medonho, mas que acaba virando amigo deles) para desistirem e fugir para a casa de seu tio, que é mais seguro.


Deparam-se com médicos que na verdade são serial-killers, já que matam turistas para retirar seu órgãos (tráfico de órgãos).




Digamos que o filme traz benefícios... diplomáticos para nós, já que foi o primeiro filme norte-americano a ser rodado inteiramente no Brasil. Teve um orçamento caro pelo que resultou, mas a polêmica foi o maior gruto gerado dessa saga assassina toda.




Convenhamos, falar que o filme fere a imagem do Brasil é patético. Primeiro que é um filme - e só isso - da mesma maneira que foi rodado no Brasil, poderia ter sido rodado na.. GUATEMALA (que aliás, a princípio era para ter sido lá. Mas os cenários naturais do Brasil são mais interessantes, o que atraiu a equipe de filmagem).


Se o problema fosse esse, o que seria de O Albergue então, que é mil vezes mais sangrento e é ambientado na Eslováquia? Então o país é feito só de assassinos e prostitutas? Pelo amor de Deus.




E afinal, sabemos que o Brasil é um dos países mais estúpidos ao se tratar de turistas. A quantidade de pessoas que são roubadas, assassinadas, esfaqueadas (alguém lembra daquela chinesa que recebeu facadas em plena Av. Atlântica por um pivete?) no país é absurda. Principalmente porque parece mais brutal matar alguém estrangeiro (tem até um sentido metafórico, já pensaram na xenofobia e aversão ao diferente?) do que da própria nação. Portanto, a desculpa de que trata o brasileiro como violento, selvagem e assassino é furada, já que é mesmo.




E quem é o brasileiro pra falar isso, já que só vira patriota em época de Copa do Mundo?


Enfim, a questão não é essa.




Ser criticado por falhas técnicas ou pobreza de roteiro ou atuações é uma coisa, criticar a obra por ter uma visão de horror das florestas brasileiras é outra.




Recomendo, só a título de curiosidade, não esperem um filme maravilhoso do gênero.

sábado, 26 de julho de 2008

Um grande cineasta de nosso tempo




Começarei esse blog fazendo um breve comentário sobre a dedicação que o Telecine Cult fez a um dos maiores diretores do nosso tempo (muito provavelmente junto de Allen e Lynch), Pedro Almodóvar.

Felizmente, o canal deu ênfase aos filmes mais antigos do artista, no início de sua fulguraz carreira que viria a revolucionar a maneira como se trata temas polêmicos e obscuros, lançando mão de muitas cores, diálogos muito rápidos e finais repentinos. Não à toa, o nome da semana de exibição (que caso alguém queira aproveitar, vai até domingo) chama-se "Cores de Almodóvar", referência óbvia a esse que é um de seus traços mais marcantes.


Os filmes exibidos (e que ainda virão) foram Maus Hábitos, Que fiz eu para merecer isto?, A Lei do Desejo, Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos, Kika, A Flor do Meu Segredo e Volver.


Almodóvar tornou-se mundialmente conhecido de fato a partir de Tudo Sobre Minha Mãe, um drama tocante mas que já marcava o início de sua fase num cinema mais dramático, fundamentado em tramas um pouco mais reais e mais expliciamente críticas. No entanto, passou a ter mais notabilidade com Mulheres à Beira.., que lançou-o ao estrelato.


Foi quando deixou de ser um diretor cult para ser cult..uado em diversos países (aliás, o grande erro dos cinéfilos é julgar os filmes como verdadeiramente bons se são de produções independentes ou dignamente alternativas, o que gera um preconceito perante filmes de grande marketing ou blockbusters; conceito extremamente preconceituoso e arrogante), tendo recebido atenção de jovens interessados por filmes europeus, crítica especializada e o grande público.


Pedro é um diretor conhecido por tratar de lances quase sempre presentes em seu filme. Em quase todas as produções há o uso abusivo de drogas, o transexualismo, assassinato, traição, homossexualismo, apresentações inspiradíssimas de música espanhola, por vezes pedofilia, ou até incesto. No entanto, a maneira como ele leva esses temas complicados é o que faz dele um cineasta iningualável; num tom sarcástico, natural, enganosamente leve e irônico.

Assumidamente influenciado pela obra de Nelson Rodrigues, Almodóvar conseguiu pegar a parte mais aproveitável do "grande" dramaturgo e usá-la em suas obras únicas.



Junto de Saura e Buñuel, os três formam a tríade do Cinema espanhol, com filmes clássicos e imperdíveis.


Por sua ousadia, sexualidade explícita, normalidade ao tratar de temas que tentamos ignorar ou esconder, profundo conhecimento do universo feminino, considero o cinema de Pedro Almodóvar uma verdadeira obra-de-arte, que deve ser apreciada aos poucos, devagar, com grandes motivos de reflexão (não aquela tortuosa, que precisamos virar o mundo para entender. O mais interessante é que às vezes o que está na tela é aquilo mesmo, sem sentidos subentendidos, e a tarefa é diferenciá-la claramente do que faz sentido e o que é, simplesmente, uma brincadeira) e várias críticas sociais.


Para quem não conhece muito de sua obra, recomendo como passo inicial Maus Hábitos, mesmo que de longe não seja sua melhor obra, sintetiza aquilo que ele aprimora e aprofunda em obras subsequentes. Quem diria, filmar uma história de freiras que injetam heroína e tomam LSD.. com normalidade.


E passem um pouco longe das obras mais recentes, exceto Volver. Como disse anteriormente, ele parece mais focado em tramas mais realistas, portanto o surrealismo de sua filmografia encontra-se na década de 80.






Divrtam-se!