terça-feira, 5 de agosto de 2008

Bertolucci


Bertolucci é um consagrado diretor, conhecido principalmente pelo (super) polêmico O Último Tango em Paris, que traz a cena clássica conhecida vulgarmente como "da manteiga". Feito numa época de prolífera descoberta artística do cinema e ainda remanscente do auge da revolução sexual da década de 60 (o filme é de 70, O ano dos grandes filmes), a obra representou exatamente aquilo que Bernardo sempre retratou nos seus filmes, mais enfaticamente ou não: a solidão, o medo, a depressão, a melancolia, e o sexo como síntese de várias emoções.

Recentemente revi seu filme mais recente, Os Sonhadores. Há algum tempo, quando o vi pela primeira vez, simplesmente não gostei. Caí naquela que pode ser a justificativa mais óbvia da platéia que não gosta de seus filmes: contém "apelação" demais. Mas agora vejo como é uma obra-de-arte.


No entanto, o que mais fica claro - e o triste de toda a reflexão - é ver como a sociedade não mudou muito perante o sexo. Ainda que vivamos uma nova revolução (também não é preciso ir longe para observar), a mentalidade da grande maioria continua muito "casta" e conservadora. O difamado Último Tango de uma longínqua década de 70 chocaria igualmente hoje em dia (há quem duvide, diga que hoje até as novelas mostrem mais, mas não da maneira crua e nua do cinema, principalmente europeu), assim como Os Sonhadores chocou.


O cinema de Bernardo Bertolucci não é para qualquer um (não me excluo totalmente disso, nem eu ainda tenho a maturidade para entender certos aspectos de suas obras). Suas personagens são sempre e invariavelmente complexas emocional, psicológica e sentimentalmente. Postas em situações de extremo teor, são obrigadas a tomar atitudes precipitadas, desesperadas. Em muitos casos, essas situações complicadas são transpostas metaforicamente em ato sexual, por isso as muitas conclusões de que o filme torna-se "apelativo".


Mas não seguindo essa linha adulta demais, ele também conseguiu fazer obras belíssimas e inesquecíveis, como Beleza Roubada (que traz uma Liv Tyler espetacularmente linda e encantadora) e O Último Imperador. No início de sua carreira, fez filmes políticos. É um diretor polêmico, sempre, mas adulto, maduro, que sabe como ninguém retratar as mais angustiadas das figuras humanas. Vale à pena uma dedicação especial e um tempo reservado a seus filmes.



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